No mundo do cooperativismo, o lucro é chamado de sobra e, diferentemente das empresas convencionais, sua exaltação é polêmica, já que há uma diferença entre “ganhar dinheiro do cooperado” e “ganhar dinheiro com o cooperado”.
Assim, o lucro alto pode significar cooperativa forte e cooperado fraco, situação em que a cooperativa ganha dinheiro do cooperado. Na outra situação, as cooperativas podem ter sobras menores, mas ainda assim importantes, o que seria resultado de eficiência operacional e estratégica. Nesse caso, ganhar dinheiro com o cooperado significa garantir bons preços na compra de insumos, bons preços na venda de mercadorias e processos eficientes, que reduzem custos e/ou agregam valor: o cooperado ganha e a cooperativa também.
Nas organizações de modo geral o lucro é comemorado como uma premiação pela qualidade da gestão. É a consequência da estratégia bem planejada e implementada em todos os seus aspectos: gestão de pessoas, processos internos, marketing/comercial e financeiro, no sentido de se buscar financiamentos mais baratos e tomar melhores decisões sobre investimentos. Assim, remunera-se o acionista por tomar riscos e empreender, visando o lucro.
No caso das cooperativas, o lucro (sobra) é importante e fundamental. Por meio dele, constrói-se a reputação da organização e de sua gestão, o que gera benefícios nas negociações com instituições financeiras, conseguindo-se custos mais baixos de empréstimos e financiamentos; nas relações com fornecedores, refletidas em menores custos nas compras, prazos de pagamentos mais longos e obtenção de serviços adicionais; nas negociações com compradores, criando-se relacionamentos de longo prazo e vendas com preços mais altos, resultado da reputação, dentre outros.
Apesar de importante, o lucro não deve ser conquistado às custas do cooperado. Cooperativas podem trabalhar com margens maiores na venda de insumos ou mesmo reter um percentual maior do valor de venda das mercadorias. Teriam lucro e poderiam até distribuir parte das sobras como uma forma de se fazer “política” com os cooperados.
Na Cocatrel, nossa filosofia é “distribuir lucros durante o exercício”, seja na forma de custos menores para o cooperado, no caso das compras; seja vendendo suas mercadorias com preços maiores, trabalhando-se inclusive com menores descontos no preço de venda. Aliás, esse foi o resultado de um estudo da Ocemg, que mostrou que a cooperativa é a que menos desconta do cooperado, em análise comparativa com cooperativas do grupo Coccamig, grupo de compradores de café e maiores empresas compradoras de café.
Assim, o lucro na Cocatrel é resultado de mais governança, mais compliance, profissionalização e responsabilidade da gestão, eficiência dos processos internos, escala produtiva, vendas com preços mais altos e outros fatores. Com esse lucro, pode-se investir em tecnologias e inovações que façam os processos mais eficientes; novas estruturas; expansão geográfica e da plataforma de produtos e serviços oferecidos aos cooperados; e financiamento dos cooperados.
Com um modelo de gestão mais profissional, a cooperativa tem conseguido “ganhar dinheiro com o cooperado”. O ano de 2022 é reflexo dessa filosofia de gestão. A cooperativa bateu recorde de faturamento e de lucro, que atingiu R$32.073.131. Assim, irá distribuir aos cooperados a sobra de R$10.821.835. Enfim, não é só lucro; é a mentalidade de que a sobra deve ser decorrência da estratégia e da eficiência e que tudo isso só faz sentido se o cooperado for o grande beneficiário do processo cooperativista.