Cocatrel

Governança Corporativa em cooperativas agropecuárias: o caminho para o profissionalismo da gestão

Não é nenhuma novidade que uma das mais importantes evoluções na parte produtiva agropecuária do Brasil foi a criação de cooperativas de produção. Por meio delas, os produtores se associaram e a ajuda mútua para comprar e vender melhorou o desempenho de todos os seus integrantes. Nesse ponto, a doutrina cooperativista foi além e ajudou a disseminar conhecimento e tecnologia para dentro da porteira, organizou a logística de venda e de distribuição dos produtos, religou a fazenda ao consumidor, melhorou a gestão de riscos diversos e ajudou o país a se tornar uma potência mundial em agronegócios.

O modelo de cooperação foi acompanhado de uma gestão democrática, situação que gera equidade na participação das decisões, inclusive sobre a destinação das sobras. Embora as cooperativas de produção sejam exemplo de sucesso, há sempre que evoluir e melhorar e, nesse aspecto, creio que o próximo passo seja o aperfeiçoamento da Governança Corporativa, seguindo-se o que já aconteceu com as cooperativas de crédito e as médicas, que se encontram mais avançadas em seus processos de gestão.

Estando como presidente da Cocatrel, uma das mais importantes cooperativas de café do Brasil, e da Coccamig, uma central que engloba 16 cooperativas de produção, acredito que o desafio maior atualmente é preparar estas organizações no sentido de se criar um modelo de governança capaz de melhorar a gestão destas cooperativas, as preparando para uma nova lógica competitiva global.

A governança corporativa é um sistema de gestão que busca criar mecanismosdemonitoramento visando transparência, prestação de contas, equidade e responsabilidade corporativa. Neste sentido, uma questão chave é que exista uma separação entre os órgãos de diretoria e o conselho administrativo. Assim, com funções bem definidas, estes órgãos, juntamente com o conselho fiscal e a auditoria independente, formam o arcabouço estrutural necessário para que ocorra uma maior profissionalização da gestão. É nesse sentido que estamos caminhando, tanto na Cocatrel como na Coccamig.

Tradicionalmente, as cooperativas agropecuárias trabalham sua gestão por meio de diretores que compõem o conselho administrativo, sendo eles cooperados. Pensando em governança, propõe-se um novo modelo, em que os executivos do corpo diretivo passam a ser contratados no mercado, podendo ou não serem associados da cooperativa. Nesse ponto, o conselho administrativo fica responsável por estas contratações e demissões, observando-se critérios técnico-comportamentais.

O conselho administrativo deve, também, discutir os planos de médio e longo prazo da cooperativa, além de avaliarem os resultados de curto prazo, bem como os planos de ação propostos pelos executivos. Exatamente por isso, é importante que sejam designados, pelos membros, um presidente e um vice-presidente do conselho administrativo, que estarão mais próximos aos executivos, definindo objetivos, metas e diretrizes, bem como realizando controles e avaliações constantes, visando sempre a construção de planos de ação para o futuro.

Sobre os aspectos chave da governança, buscar-se-ia um aprimoramento contínuo nas questões de transparência, prestação de contas, equidade e responsabilidade corporativa, incluindo aqui questões ligadas à ESG, referindo-se às práticas sociais e ambientais da cooperativa, colocando-a em sintonia com valores cada vez mais valorizados pelas comunidades do seu entorno.

Sobre os mecanismos de monitoramento, vale ressaltar a importância de que sejam observados indicadores em cinco dimensões: sócios, papéis dos conselhos, executivos do corpo diretivo, órgãos de controle e fiscalização, e conduta e conflitos de interesses.

Enfim, o sistema de governança tem sido utilizado por vários tipos de organizações, incluindo cooperativas de outros ramos, visto que diminui as chances de abusos de poder, de fraudes e até de erros estratégicos, mas exige-se: conselhos de administração atuantes, estando próximas aos executivos contratados; conselhos fiscais preparados para fiscalizar e verificar as contas, bem como para oferecer pareceres aos acionistas que assim o desejarem; auditorias internas com poder para apontar erros e auditorias externas independentes, para garantir transparência ao processo. Em síntese, o aperfeiçoamento da governança corporativa em cooperativas agropecuárias é fundamental para se atingir uma gestão mais profissional, questão cada vez mais vital para o sucesso e a perenidade nos negócios.

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